12 agosto, 2014

FAM Capítulo II - A Regra Quebrada

Canavieiras - BA, Agosto de 1996




Seria uma noite qualquer de fim de semana no Porto se não fosse por ela. Yara, Mãe D’água ou Yemanjá. Ela tem vários nomes, um diferente em cada região ou cultura. Mas todos a conhecem ou acham que sim e mesmo com as lendas eles nunca a reconhecem. Pele clara. Cabelos castanhos avermelhados. Olhar profundo. Mais uma vez se apresentava como uma cantora comum num restaurante. Estava linda e deslumbrante no seu longo vestido azul semi-transparente, a procura de uma nova vítima, mas não contava com o que fosse acontecer aquela noite e nem com as consequências que iria trazer para o resto da sua vida.

Enquanto se apresentava, cantando uma bela canção, encantava muitos, inclusive ele, o homem lindo e maravilhoso que a observava com fogo nos olhos a desejando com tanto ardor que ela conseguia perceber a luxuria exalando ao seu redor.

Quando ela terminou a canção recebeu vários elogios de todos os homens do lugar, mas os ignorou e seguiu na direção daquele que também vinha em sua direção medindo cada centímetro do seu corpo sem nenhum pudor.

- Você canta divinamente. Um verdadeiro anjo – o homem elogiou.

- Pude perceber que ficou impressionado pela maneira constrangedora que me olhava.

- Não acho que tenha incomodado, já que está aqui diante de mim.

- Tem razão – ela admitiu. – Não incomodou. Só fiquei curiosa para saber o que pode me oferecer de diferente dos demais aqui presentes. – lançou o desafio em meio a um sorriso provocante.

- Uma noite inesquecível de muito prazer – ele respondeu, sem rodeios. Um sorriso malicioso brotou em sua face quando viu a mesma malicia em seu objeto de desejo.

Sem perder mais nenhum segundo sequer, ambos saíram do meio da multidão e desceram para a beira do rio onde ele cumpriu cada palavra do que tinha prometido e ela correspondia da mesma maneira. Intensamente se entregaram a essa inexplicável e irresistível atração que era diferente de qualquer outra que já tinham sentido. Nenhum dos dois fazia ideia de quem ou o que o outro realmente era e nem ao que estavam se condenando. Entre gemidos, arranhões e mordidas, fizeram amor de forma enlouquecedora até a aurora do novo dia, mas ambos ainda estavam cheios de energia. E agora? Como sair sorrateiramente para água de que tanto precisavam sem entregar sua verdadeira forma?

- Temos que ir, antes que alguém nos flagre – ela disse observando ao redor, buscando um modo despistá-lo.

- Tem razão. Vá na frente – ele pediu.

- Não, pode ir você. Eu pensei em dar um mergulho antes – o desespero já tomando conta de suas ações. A desculpa fora tola e ela temeu que ele pedisse para acompanhá-la no mergulho.

Ninguém se mexeu. O sol estava nascendo. Se olharam um segundo que pareceu tão longo... então se atiraram na água sem se importar mais. A verdade e a gravidade do que fizeram lhes veio à mente em uma troca um olhar cheio de significado, como que combinando de se reencontrar novamente para tentar encontrar uma solução antes que o pior viesse a acontecer.


Mais tarde naquele dia...


- O que fizemos? Não podia ter acontecido. Existem regras. Um maldição – ela disse furiosa, mais consigo do que com ele. Como não pudera ter notado?

- Minha culpa. Deveria ter percebido quando foi tão fácil – ele a observou fuzila-lo com os olhos e emendou –, sem oferecer nenhuma resistência e por não ter precisado usar a compulsão com você.

- Ora seu insolente, como se atreve? – o sermão estava na ponta da língua, mas ela se conteve. Não era hora para brigas fúteis. – Agora não é o momento para isso, temos coisas muito mais preocupantes para ocupar nossas mentes. Mas ainda vou fazer você pagar pelo que disse – ameaçou.

- Desculpe. Estou nervoso. Não sei o que pensar ou como agir. Temos algum precedente? Alguém sabe de onde surgiu a maldição e o que diabos isso significa?

- Ninguém sabe ao certo, mas é melhor reunir e mandar todos os espíritos começarem a investigar, porque a única coisa que sei é que vai afetar a todos.

Semanas, meses se passaram e nada aconteceu e nem ninguém conseguiu descobrir qual era a maldição. Mas dentro do ventre da sereia crescia o fruto da quebra da regra mais importante que rege a existência dessas criaturas malignas, a criança que viria ao mundo para destruí-los.

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