16 agosto, 2014

FAM Capítulo VI – Folclore


Salvador – BA, 22 de maio de 2014.



Depois de longas horas na estrada dentro ônibus chegamos ao nosso destino, um albergue simples, mas bastante confortável que o pessoal do grêmio estudantil conseguiu para que ficássemos durante a viagem. Tinha redes na varanda, uma sala com uma mesa de sinuca e uma de pingue-pongue, e claro, WI-FI. Apesar do lazer proporcionado fomos nos instalar e descansar porque na manhã seguinte, sexta-feira, o nosso dia seria longo.

No dia seguinte levantamos cedo para conhecer a Universidade que por sinal era enorme. Como eu nunca tinha ido a nenhuma capital fiquei impressiona com a estrutura do local e por causa da feira havia vários stands espalhados em locais estratégicos e uma programação com palestras nos auditórios. Uma palestra em especial me chamou a atenção. "Folclore" estava escrito no cronograma, a palestra saria só às 17 horas, então passei o restante do dia visitando stands e conhecendo diversas profissões, mas estava ansiosa para saber o que poderia ser dito sobre historinhas para crianças que faria alguém querer se especializar no tema.

Quando chegou o horário, eu e Helen nos acomodamos no fundo do auditório rindo descontroladamente enquanto fazíamos piadas sobre a pobre criatura, que devia ser um senhor idoso que vive sozinho e infeliz, que irá fazer a palestra. O palestrante chegou e na primeira página do slide estava sua identificação:

Frederico da Silva

26 anos

Instrutor de Capoeira - Cordão Verde

Especialista em Folclore Brasileiro


Parei de rir quando o meu olhar encontrou o dele e num movimento involuntário me encolhi um pouco na cadeira. Ele não era nada do que eu tinha imaginado. Frederico era um pretinho lindo de olhos pequenos verde água. Forte, mas não muito. Dava para perceber o contorno de seus músculos sobre a sua camisa social branca. Tentei prestar atenção na palestra, mas em vários momentos me peguei pensando em beijar um sinal que ele tem do lado esquerdo do pescoço. Ele se apresentou de forma bem descontraída e meu coração não parava de palpitar.

- Meu nome é Frederico – ele começou a falar num microfone –, mas podem me chamar de Fred. Sou instrutor de capoeira, então não se metam comigo – disse sorrindo e a plateia caiu na gargalhada – Sou apaixonado por mitos e lendas, principalmente as nossas.

Não conseguia tirar os olhos dos lábios dele. Ouvi a palestra em pedaços. - ...Folclore é o conjunto de tradições e manifestações populares constituído por lendas, mitos, provérbios, danças e costumes que são passados de geração em geração... - Ele falava do tema com tamanha paixão que imaginei que ele realmente acreditasse naquelas histórias e que eram importantes para a nossa cultura. E eu aqui pensando no belo contraste que fazemos. Eu sou muito clara, quase transparente como a Helen gosta de dizer, tenho até vergonha de dizer que sou baiana. Meus cabelos são castanhos e ganham um brilho avermelhado ao sol.

Meu olhar acompanhava cada gesto que ele fazia com as mãos. Em alguns momentos tive a impressão de que ele olhava diretamente para mim. A Hellen fazia comentários picantes sobre o corpo dele, mas eu nem estava prestando atenção no que ela dizia, estava tirando minhas próprias conclusões.

Quando a palestra terminou todos estavam cumprimentando o Fred e saindo. Eu queria ir lá falar com ele também. Queria chamar a atenção dele de alguma forma pra mim. Pegar o contato dele para depois "saber mais sobre o tema" – Imaginei essa desculpa sorrindo, mas a verdade é que eu só queria o contato dele mesmo.

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