30 julho, 2017

Conto: No Ritmo da Sedução

Imagem: http://www.planetzouk.net


Meu nome é Lidia, tenho 22 anos e há oito meses estava entrando em depressão. Situação complicada para uma mulher jovem que sempre foi muito alegre e carinhosa com as pessoas a sua volta e que de repente foi ficando cada vez mais triste e calada, sem vontade de fazer nada. Não vendo sentido nenhum no meu trabalho ou na minha faculdade. Vida amorosa não existia para mim. Tive dois relacionamentos muito conturbados e não queria mais nada disso tão cedo em minha vida. Aliás, não tinha nem vontade de querer qualquer outra coisa a não ser chorar em todos os momentos que me encontrava sozinha. Chorava calada, não emitindo som algum para não chamar atenção para mim. Só queria ficar só com a minha dor, a qual nem eu sei o real motivo da existência.

Tudo mudou quando minha amiga e colega de trabalho, Sabrina, me convenceu a sair com ela e ir a uma danceteria de música latina recentemente aberta, a Sabor Latino.
Por uma semana inteira ela ficou falando sobre tudo o que disseram para ela sobre o lugar para me animar a ir com ela no sábado a noite. De tanto insistir aceitei, mas quando finalmente chegou o dia não tinha vontade nenhuma de sair. Como já tinha combinado e ela já estava a caminho para me buscar não poderia simplesmente dizer que não iria mais, então olhei para o espelho e disse para mim mesma “chega de tristeza!”. Tomada a decisão, coloquei um vestido novo simples azul claro que combinava bem com meu tom de pele clara. Meus cabelos castanho claro estavam limpos, secos e ondulados, pois os tinha lavado mais cedo e deixado secar naturalmente. Decidi passar um pouco de maquiagem para melhorar a minha cara pálida. Usei base, gloss, blush e rímel. Quando Sabrina chegou já estava pronta.
- Ai amiga, você está muito bonita, mas poderia ter passado um pouco de lápis para dar uma levantada no olhar delinear seus lindos olhos cor de mel. - Ela disse assim que me viu.

- Ah não Sabrina, prefiro assim mesmo.

- Tudo bem. Entra aí.

Seguimos direto para a Sabor Latino e do lado de fora já dava para ouvir a música alta e envolvente que tocava lá dentro. Entramos e fomos guiadas para uma mesa para duas. A salsa rápida agitava as pessoas na pista que pareciam se divertir muito e a alegria deles me fez sorrir de verdade depois de um bom tempo. Pedimos bebidas e conversamos um pouco, depois a Sabrina foi tirada para dançar e eu fiquei assistindo. Quando eu era criança adorava dançar, mas nunca dancei a dois, só vi as pessoas dançando em filmes. Comecei a me sentir um pouco deslocada e resolvi ir ao banheiro me retocar quando de repente meu olhar cruzou com o de um homem na pista que dançava muito bem. Ele e sua parceira estavam dando um show e não tinha quem não olhasse para eles. Em alguns momentos na dança tive a certeza de que ele estava olhando para mim e fiquei ali parada olhando para ele. Quando finalmente despertei do meu devaneio continuei meu caminho até o banheiro e meu braço esquerdo foi tocado por alguém que estava atrás de mim. Virei para ver quem era e me deparei com um par de olhos negros e sedutores. Ele sorriu com os lábios e me convidou para dançar. Naquele momento pareceu que o mundo tinha parado enquanto eu me decidia se aceitava ou não, vontade não faltava, mas eu não sabia se conseguiria acompanhá-lo na dança. Seu sorriso se alargou quando ele tomou a decisão por mim pegando minha mão e me guiando para a pista. Exatamente no momento em que chegamos lá uma salsa se encerrou e começou a tocar uma música mais lenta. Um ritmo que nunca tinha ouvido.
- Eu não sei dançar isso.

- Relaxa! Eu guio você.

Não disse mais nada, apenas deixei que ele controlasse a situação enquanto eu tentava pensar nos passos que fazíamos. Aos poucos fui me desligando da razão, deixando o ritmo se apossar do meu corpo que ele manuseava com precisão. Fiz movimentos que não imaginei que conseguiria sem algum preparo.
A dança acabou e eu fui para o banheiro, me olhei no espelho com um sorriso bobo na cara que entregava o quanto eu tinha gostado e repeti para mim mesmo que não acreditava no que tinha feito, tudo que eu pensava era que eu queria ter aquela sensação novamente. Pela primeira vez na vida realmente me senti linda.

Voltei para a pista, mas não o encontrei. Percorri todo o local com os olhos e nada. Mesmo assim não desanimei, estava extasiada, excitada com a expectativa de que a qualquer momento ele poderia aparecer novamente de surpresa para me tirar novamente para dançar.

Não aconteceu com ele, mas outros homens me chamaram para dançar e eu aceitei, principalmente pelo fato de que eles realmente queriam dançar e não usar o convite como desculpa para se esfregar em mim ou ficar me paquerando. Todas as pessoas naquele lugar eram muito receptivas e a diversão era o único motivo de estarem ali.

Cheguei tarde e demorei um pouco a dormir. As lembranças daquela dança com aquele homem me assombravam no escuro do meu quarto até meus olhos não resistirem mais e finalmente ceder ao cansaço do meu corpo. Meu domingo foi tranquilo em casa mesmo, mas pelo menos agora não parecia mais um zumbi se arrastando pelos cômodos da casa. Apesar de ainda cansada da noite anterior não queria ficar na cama, finalmente voltei a interagir com a família. Na segunda, Sabrina percebeu minha melhora e ficou se achando responsável por levantar meu astral, achei graça. Realmente se não fosse por ela não teria me perdido nos braços do dono daqueles olhos hipnotizantes e me rendido aquela música. Naquela noite trocamos contatos com várias pessoas que no dia seguinte mandaram convites para fazer aula de dança. Eu e Sabrina ficamos muito empolgadas com essa possibilidade e ficamos de fazer uma aula experimental qualquer dia. A sensação que a dança me trouxe foi única, fez meu coração pulsar e a vida correr em minhas vidas. Eu queria isso de novo.

Algumas semanas se passaram eu e Sabrina não estávamos conseguindo conciliar horários para fazermos a aula juntas o que me deixava bastante inquieta, então fiz o que estava pensando nos últimos dias, resolvi que faria a aula mesmo sem ela. Troquei mensagens com o professor Vinícius no Facebook sobre os horários das aulas e no sábado pela manhã fui a aula de salsa que era o único ritmo que tinha aula num horário compatível com o meu.

Descobri durante as aulas que a salsa não é nada do que pensei. Tem muitos passos complexos e estilos diferentes, me senti um pouco perdida achando que não ia conseguir, mas o meu professor não me deixava desanimar e mesmo com tantos erros as aulas não deixavam de ser divertidas. Entrei na turma já no final do ano e a academia fazia sempre uma festa de encerramento do semestre na qual todos os alunos foram convidados. A festa foi bem legal, só tinham professores e alunos, desde iniciantes a avançados, todos muito simpáticos e chamavam todas as damas para dançar o que contribuiu para eu tentar os poucos passos que aprendi porque se dependesse de eu chamar alguém para dançar teria ficado sentada a noite toda. Ficava pensando que se chamasse alguém para dançar comigo, esse alguém acharia que eu sei dançar e seria muita pretensão minha achar uma coisa dessas já que só tenho 3 semanas de aula. Fui arrastada para salsa em roda e fiquei traumatizada porque todos faziam passos avançados e eu no meu iniciante básico tentando desesperadamente acompanhar, em seguida fiquei um tempo quietinha no meu canto. Eu estava sentada e sorrindo ao ver os alunos se divertindo e dançando quando ele chegou, aquele homem que roubou o meu sossego nos últimos dias, lindo e imponente, incendiava a pista com a sua ginga acompanhado de uma mulher muito charmosa que chamava atenção na pista. Não era a mesma do clube, mas eles tinham uma química inegável na dança. Confesso que tive inveja. Queria dançar como ela. Queria dançar com ele daquele jeito.




Depois de um mês e meio de aula já não estava mais traumatizada em ser arrastada para dançar coisas que não sei. Na verdade comecei a rir dos meus próprio erros e me divertir com isso, resultado, ficava mais relaxada e aos pouco ia aprendendo um pouco mais. No final da aula o professor Vinícius anunciou que teria aula de outro ritmo também aos sábados, uma tal de bachata que eu não fazia ideia do que era. Não ia conseguir esperar até o próximo sábado para saber o que é por isso recorri ao youtube e nossa, fiquei impressionada e louca para aprender esse ritmo que também tocou algumas poucas vezes na festa de encerramento. Esse ritmo que aquele homem sedutor me conduziu. Mal podia esperar até sábado.

Depois de uma semana de espera finalmente chegou o dia de aprender bachata e eu quase infartei quando conheci o professor Caco. Era ele. Nervosismo me dominava.
Ele não deu nenhum sinal de reconhecimento para mim, se ele lembrasse teria falado comigo na festa, mas não falou, por isso joguei meus pensamentos para escanteio e me concentrei no que estava ali para fazer: aprender a dançar um novo ritmo.

Eu estava apaixonada. A bachata é muito sensual e faz o corpo se mexer deliciosamente de forma leve. Quando estou dançando e os corpos estão juntinhos tenho por hábito fechar os olhos e viajar nos sentidos. Tenho a sensação de estar flutuando nas nuvens e que o vento molda os movimentos que o meu corpo faz.

Mais algumas aulas e até que conversamos um pouco, mas o Caco era pura simpatia e hiperatividade em pessoa. Conversava e brincava com todos, mas em alguns momentos, quando ele me olhava ou a maneira como me tocava na condução fazia minha imaginação pensar que talvez ele fosse de alguma forma diferente comigo. Será? Não. Não. Acho que não. Dois lados dentro de mim guerreando e me confundindo.

Depois de quatro meses de aulas não tinha mais como negar minha paixão por bachata e eu estava mudando. Aquela Lidia deprimida que existia já não tinha mais espaço dentro de mim. A Academia começou a incentivar os alunos a frequentar mais locais como a Sabor Latino, mas eu não conseguia ir por causa da demanda de trabalhos e compromissos da faculdade que estavam me esgotando. Eu precisava dançar novamente fora das aulas então não teve jeito, deixei os meus deveres em stand by e fui fazer o que tanto ansiava, dançar.

Naquela noite ia ter uma banda de salsa ao vivo e eu decidi caprichar no visual para parecer latina. Escolhi um vestido rodado florido com um detalhe trançado no colo e costas nuas. Modelei os cabelos para deixá-los bem cacheados e pus uma flor. Sabrina foi comigo, claro. Mesmo que ela não conseguisse fazer as aulas não perdia uma balada. A noite toda foi maravilhosa. A Sabor Latino estava lotada e as pessoas eufóricas. O DJ comandava o som aquecendo a pista para a banda que iria se apresentar e quando finalmente entraram a galera foi ao delírio. Salsa, Merengue, Cha-cha-cha… uma dança atrás da outra, meus pés estavam um fiasco, fiz uma pausa breve e voltei para a pista. Não conseguia parar de dançar, mas o final da noite foi a minha parte preferida. Uma seleção com as minhas bachatas preferidas começou a tocar. Reuni coragem e chamei o Caco para dançar e ele aceitou. Dançamos uma, duas, três… cinco bachatas e foi maravilhoso. Ainda melhor que a primeira vez. Nos entregamos completamente a música. Lembrei do que Caco disse em uma aula “dançar bachata é como se apaixonar. Lento, mas intenso”. E como foi intenso. Caco acariciava minhas costas nuas e eu respondia apertando as suas. Beijamos o pescoço um do outro. Ele inclinou meu corpo para trás num cambret e de olhos fechado me perdi agarrando com as unhas a camisa dele. Quando me trouxe novamente para a base nossos lábios se roçaram e ficamos de testas coladas. Saímos da festa juntos e levamos a nossa dança para um lugar mais íntimo. O estúdio de Caco estava vazio e recomeçamos de onde paramos. Nossos corpos ainda estavam quentes e levemente suados o que só parecia atiçar ainda mais a nossa vontade de estar cada vez mais próximos.

Com as luzes do estúdio estavam apagadas e a única coisa que nos iluminava eram as poucas luzes que vinham de fora pela janela, ligamos a música e os movimentos começavam a fluir. Estranho como as pessoas são as mesmas, os movimentos são os mesmos, mas o simples fato de apagar a luz e esquecer o mundo parece fazer os corpos se conectarem com uma facilidade que não existia antes.

No compasso da dança nossos corpos ganhavam cada mais familiaridades e consciência um do outro. Ao som de Daniel Santacruz que cantava sobre um casal que se apaixonava enquanto dançava eu sentia a respiração de Caco cada vez mais perto do meu pescoço. Um movimento de giro e eu parei de costas para ele que me abraçou, por um instante paramos assim e voltamos a nos mexer lentamente, mas desta vez com os pés parados. "Não consigo parar de pensar em você desde a primeira vez que dançamos no Sabor Latino" ele disse baixinho no meu ouvido. "Eu também", respondi quase sem fôlego. Saber disso me deu coragem para arriscar meus desejos e deslizei a mão para o seu joelho esquerdo. Senti seu corpo vibrando e acompanhei o seu movimento na música, subindo lentamente minha mão pela sua perna.

Conforme minha mão subia lentamente, sua excitação crescia, nossos corpos ficavam ainda mais próximos e balançando no ritmo da música. Podia sentir sua respiração cada vez mais ofegante no meu ouvido.

Caco beijava meu pescoço e minha pele se arrepiava com o toque dos seus lábios. Ele segurou meu rosto, com força e suavidade ao mesmo tempo, e virou minha boca de encontro a sua e me beijou. Bem suave no primeiro momento, para logo depois se tornou intenso e faminto. Naquele momento nós éramos as únicas pessoas no mundo. Me virei de frente para ele e continuei beijando-o com vontade, meu corpo gritava que queria se fundir ao dele.

Todo controle que tínhamos até agora se evaporou e deu lugar ao desejo e a necessidade de consumi-lo. Ele abriu o zíper do meu vestido e o deslizou lentamente para baixo. Seus olhos escureceram de desejo ao parar para olhar meu corpo de baixo para cima que estava coberto apenas por uma pequena peça íntima e sapatos.

Me atrevi a tirar a sua roupa também. Removi a sua blusa e fui desabotoando a sua calça lentamente sem perder o contato visual. Ele não se conteve mais e em poucos segundos estávamos nus, nos beijando loucamente nos entregando completamente aquele momento louco e inesperado.

Ele me segurou com força e me levantou com seus braços. Entrelacei minhas pernas em sua cintura e ele me carregou assim até uma janela grande na sala que ia até o chão. Não havia pessoas na rua, mas se houvesse facilmente poderiam nos ver. Não me importava. Apenas queria sentir o seu calor dentro de mim. Ele me apoiou na janela recomeçou a me beijar no pescoço, nos ombros e lentamente aproximando seu membro de mim. Me penetrou devagar,  eu estava enlouquecendo com essa deliciosa tortura, mas gradativamente foi aumentando a intensidade e em pouco tempo eu pude senti-lo por inteiro. Tão duro e tão suave ao mesmo tempo que parecia uma contradição. Comecei a gemer baixo no início, aumentando até não conseguir conter os gritos. O desejo e excitação que surgiram da nossa dança tomaram forma nas minhas fantasias. Mas foi só isso.

As canções que embalavam o final da festa serviram de trilha sonora para os meus delírios. Para mim não tinha mais ninguém ali e essa dança poderia nunca acabar, mas acabou. Pena! E quando abri os olhos novamente percebi que nunca saímos dali. A festa acabou e eu tinha que ir embora com a Sabrina, apesar do convite tentador que o Caco fez de sairmos todos os que ficaram até o final para comer algo, não aceitei porque estava muito cansada e envergonhada por ter fantasiado aquilo no meio da nossa dança.


Depois disso, tudo voltou a ser como antes. Ele era apenas professor e eu aluna. As vezes me pegava pensando se o que aconteceu aquela noite foi apenas um delírio meu fruto da sedução causada por aquele ritmo.






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